Produtividade

Einstein e a organização do pensamento

“Nunca tive nenhuma das minhas descobertas usando o processo do pensamento racional.” — Albert Einstein

Na arena da conquista científica e na busca por descobrir a genialidade, Albert Einstein se destaca. Ele continua uma figura profundamente importante que realizou trabalhos extraordinários e inéditos que não apenas moldaram os pilares da física moderna, como também influenciaram a filosofia da ciência.

Literalmente, Einstein mudou a maneira como vemos e viajamos pelo mundo e pelo cosmos. Ele foi responsável pela equação mais famosa do mundo e por descobrir a teoria da relatividade, considerada como a maior descoberta intelectual da humanidade.

Einstein trabalhava de maneira única. Desde a visualização, até divagações e até mesmo uma pitada de inspiração musical, os insights criativos e pontos de vista filosóficos ajudaram a guiar a forma como trabalhamos hoje.

A força do jogo

“Uma nova ideia surge de repente e de uma forma um tanto intuitiva. Mas a intuição não é nada além do produto de uma experiência intelectual anterior.” — Albert Einstein

Einstein fazia intervalos no seu trabalho para tocar violino. Beethoven preferia “caminhadas longas e vigorosas” nas quais ele carregava um lápis e uma partitura em branco. Mahler, Satie, e Tchaikovsky acreditavam na força da caminhada programada durante o dia.

Para algumas pessoas, são caminhadas e intervalos durante o dia. Para outras, é aplicar o tempo em aprofundar-se em áreas completamente diferentes do seu trabalho. Desde a música até a pintura, a busca por atividades possui a capacidade de nos ajudar a descobrir e conectar o que sabemos com o que buscamos saber.

Ele via os intervalos musicais como uma parte importante do seu processo criativo. Além da música, ele propunha o ‘jogo combinatório’ — pegar coisas que aparentemente não tem relação fora dos reinos da ciência (arte, ideias, música, pensamentos), e misturá-los para chegar a novas ideias. Foi assim que ele chegou à sua equação mais famosa, E=mc².

“O jogo combinatório parece ser o recurso essencial no pensamento produtivo,” Einstein escreveu em uma carta (em itálico abaixo) para Jacques S. Hadamard, que estava estudando o processo do pensamento de matemáticos.

“…Palavras ou a linguagem, como são escritas ou faladas, não parecem desempenhar qualquer papel no meu mecanismo de pensamento. As entidades psíquicas que parecem servir como elementos no pensamento são certos sinais e imagens mais ou menos claras que podem ser “voluntariamente” reproduzidas e combinadas…mas observadas sob um ponto de vista psicológico, este jogo combinatório parece ser o recurso essencial no pensamento produtivo — antes de existir qualquer conexão com a construção lógica em palavras ou outros tipos de sinais que podem ser comunicados a outras pessoas.” —Albert Einstein

Não se pode ensinar criatividade, mas ela pode ser extraída e abraçada. Nada alimenta mais o fogo da nossa criatividade do que a ideia de inspiração criativa instantânea—o raio no céu ou a maçã caindo da árvore. Na verdade, a criatividade surge quando você a alimenta como se fosse um fogo faminto por mais lenha. E, a criatividade chega ao seu potencial máximo quando é alimentada junto com conhecimento, ideias e habilidades que você adquiriu ao longo da vida. É por isso que cineastas buscam inspiração em museus de arte e porque compositores encontram notas na música diária da vida cotidiana.

Ideias e interlúdios

Maria Popova, autora do Brainpickings, escreve que a síntese orgânica de ideias acontece quando damos um passo para trás e examinamos os padrões. Não confunda estes momentos com o ilustre e muito debatido raio de inspiração, mesmo com eles podendo acontecer enquanto estamos andando, tomando banho, ou até meditando.

Pense neles como momentos importantes que são parte de um processo criativo sequencial que acontece enquanto trabalhamos e nos divertimos. Pense no trabalho como olhar através da lente de um microscópio em um laboratório, e a criatividade começa a ser filtrada quando você faz um intervalo, pega um instrumento, ou sai para dar uma caminhada.

Estes interlúdios ajudaram Einstein a conectar os pontos dos seus experimentos em momentos oportunos quando ele pegou o violino. “Me apaixonei por Albert porque ele tocava Mozart tão lindamente no violino,” lembrou sua segunda esposa, Elsa. “Ele também toca piano. A música o ajuda quando ele está pensando sobre suas teorias. Ele vai pro escritório, volta, toca alguns acordes no piano, anota qualquer coisa, volta para o escritório.”

Beleza na ciência

“Esse tipo de jogo mental usa tanto o pensamento consciente como o inconsciente: analisando vários estímulos e informações, percebendo padrões e semelhanças claras ou ocultas entre coisas ou ideias, e jogando com suas interconexões, relacionamentos, e ligações,” ressalta a pesquisadora Victoria Stevens, que explorou a neurociência da criatividade em To Think Without Thinking.

Stevens ressalta que a ligação entre o resolvedor de problemas e o pensador criativo é essencial. “O jogo combinatório fornece um campo fértil para investigação neuroestética na conexão direta entre jogo, imaginação, criatividade, e empatia”, ela disse.

Apesar deste jogo combinatório imaginativo ser uma parte essencial do pensamento produtivo de Einstein, o mesmo tipo de pensamento e uma natureza divertida são essenciais a todas as criações artísticas.

“Pessoalmente, eu experimento o maior grau de prazer tendo contato com obras de arte,” Einstein disse. “Elas me dão sentimentos felizes de intensidade que não consigo obter de outras fontes.”

O trabalho de Einstein foi muito influenciado pela arte, e por sua vez, influenciou artistas.

O trabalho surrealista de Salvador Dali possui raízes nos menores elementos científicos do trabalho de Einstein. Dali tinha muito interesse por mecânica quântica e física nuclear, e estas partículas atômicas são a base da sua pintura A Persistência da Memória, que alguns dizem representar a flexibilização do tempo.

Divagação é o fator decisivo

As dificuldades acadêmicas e de aprendizagem inicias de Einstein geralmente são debatidas.

Quando tinha 15 anos, ele saiu da escola. Einstein deixou a escola porque seus professores não aprovavam a imaginação visual para o aprendizado, habilidades que se tornaram fundamentais na sua maneira de pensar. “A imaginação é mais importante do que o conhecimento”, Einstein diria.

Não é coincidência que mais ou menos na mesma época, Einstein começou a usar experimentos de pensamentos que mudariam a forma como ele pensaria sobre seus experimentos futuros. O primeiro, quando tinha 16 anos, consistiu na perseguição de um facho de luz, que o ajudaria a iniciar a descoberta da relatividade especial.

Sua habilidade inata de conceitualizar detalhes científicos complexos se tornaram um marco de sua pesquisa. O seu trabalho sobre a gravidade foi influenciado ao se imaginar em um elevador em queda livre. Esta divagação acabou por levá-lo a compreender que a gravidade e a aceleração eram basicamente a mesma coisa.

Usando estes experimentos de pensamento simples, Einstein foi capaz de compreender que o tempo e o espaço são moldados pela matéria—a base da teoria de relatividade geral. É surpreendente como esse experimento de pensamento mudou tudo que achávamos que sabíamos sobre o universo.

As ideias de Newton sobre o universo eram unidimensionais, mas Einstein propôs que nosso universo tinha quatro dimensões, onde as estrelas, planetas, e corpos celestiais formavam um “tecido” que eram dinamicamente influenciados pelo entortamento e curvatura da força gravitacional.

A humanidade esteve equipada para explorar boa parte do que a sua teoria propôs, apenas recentemente—supernovas, buracos negros, e a evolução do nosso sistema solar.

Um legado duradouro

Quase um século depois, o legado de Einstein permanece mais forte do que nunca. Suas teorias de gravidade, espaço, e tempo continuam a influenciar uma nova geração de cientistas. Conforme Einstein continuou seu trabalho, ele manteve uma noção natural de compreensão do mundo e compaixão e gentileza com as pessoas ao seu redor.

É justo saber que ele estava consciente do tempo incrivelmente curto que temos neste planeta, enquanto ao mesmo tempo compreendia que todo o trabalho que realizara era diretamente relacionado àqueles que vieram antes dele. É bom saber que ele percebeu que seu trabalho seria essencial para todos aqueles que ainda estavam por vir.

“Como nós mortais somos estranhos! Cada um de nós aqui por um breve tempo; por qual motivo ninguém sabe, mas às vezes achamos que sentimos. Mas sem uma reflexão mais profunda qualquer um sabe a partir da vida diária que existe para outras pessoas…centenas de vezes por dia eu me lembro que minha vida interna e externa são baseadas nos trabalhos de outros homens, vivos e mortos, e que preciso me esforçar para poder dar na mesma medida em que recebi e que ainda recebo,” disse Einstein.

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